tag:blogger.com,1999:blog-39547534806343334072024-02-20T06:25:44.700-08:00Poemas Do Cárceredila luna matoshttp://www.blogger.com/profile/15405374156026498470noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-3954753480634333407.post-88540365125840806862009-01-21T10:04:00.000-08:002009-02-03T04:28:46.039-08:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKA4jhPW2a4GnzNB0tyeGdBKKvN1rsNUQY96XLWzIT0rrzVmBp_RzQPb9ZGLcXVwai8zsSPqz-oMWpnrXBECQ-eYZFqpDbK3gQfdBj6vM1th1PgzVAg7TdUvhRaUjkOpZZA6CROM-q3jNR/s1600-h/Imagem+030.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKA4jhPW2a4GnzNB0tyeGdBKKvN1rsNUQY96XLWzIT0rrzVmBp_RzQPb9ZGLcXVwai8zsSPqz-oMWpnrXBECQ-eYZFqpDbK3gQfdBj6vM1th1PgzVAg7TdUvhRaUjkOpZZA6CROM-q3jNR/s400/Imagem+030.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293814072744286306" /></a><br /> Mexendo na caixa de Pandora encontrei um livro que tomei emprestado de Lilina (Angelina Miranda), uma amiga muito querida. Já faz muito tempo, agora, vou devolve-lo através desse blog. <br /><br /><br />POEMAS DO CÁRCERE<br />(CARNET DE PRISON- traduit par Phan Nhuam)<br /><br />Autor: Ho Chi Minh<br />Tradução de Coema Simões e Moniz Bandeira<br />Gráfica Editora Laermmer S.A<br />Rio de Janeiro – Guanabara<br />1968<br /><br />Orelhas<br /><br />Os Poemas do Cárcere constituem uma peça fundamental para a compreensão do caráter e da psicologia de Ho Chi Minh.<br /><br />Quem é ele? Como viveu? Que pensa? A personalidade desse homem, que provoca admiração e respeito, tanto nos adversários como nos seguidores, suscita perguntas que todas as respostas conhecidas não satisfazem.<br /><br />HO Chi Minh, de todos os estadistas do mundo contemporâneo, talvez seja o que menos se revele, o que menos se abra ao contacto da impressa, através de grandes pronunciamentos.<br /><br />As suas obras só agora chegam ao Brasil.<br /><br />Daí a importância da publicação dos Poemas do Cárcere, nos quais esse homem resevado e tranqüilo, mas firme e obstinado, exprime a sua intimidade, seus anseios e sentimentos, que, como os de todo líder, refletem os anseios e os sentimentos do povo.<br /><br />Não se encontram nos seus versos os valores estéticos a que o público ocidental habituou a sua sensibilidade.<br /><br />Eles encerram, de modo geral, um conteúdo ético e apelam, sobretudo, para a consciência do leitor.<br /><br />O conteúdo dos Poemas do Cárcere traduz, assim, toda a filosofia de comportamento não só de Ho Chi Minh, mas, do povo vietnamita, que combate e ele simboliza.<br /><br />A poesia integra o cotidiano do Vietnam.<br /><br />Ho Chi Minh, freqüentemente, escreve mensagem ou termina seus discursos em versos. A poesia, nele, não representa uma forma de fugir a vida, mas uma forma de enfrenta-la.<br /><br />Os Poemas do Cárcere mostram que nada é mais precioso para ele do que a independência e a dignidade. E, pela sua voz, fala todo o povo do Vietnam.<br /><br /><br /><br /><br />HO CHI MINH<br /><br />A Poesia na Revolução<br /><br />Magro, rosto amarelado, imberbe, cabelo na testa- este, o aspecto que o jovem Ba apresentava, quando desembarcou no porto do Rio de Janeiro. Trabalhava a bordo de um navio e ficara em terra para tratamento de saúde.<br /><br />Ba ou, como se notabilizaria mais tarde, Ho Ch Minh habitou uma pensão no bairro de Santa Tereza. Ali passou algum tempo. Talvez três meses, enquanto esperava que outro navio o levasse de volta.<br /><br />Não se pode precisar exatamente a data. Ba,nos fins de 1911, embarcou, como ajudante de cozieiro, no La Touche Treville, que fazia a linha Haiphong-Marselha. Tinha apenas 21 anos. Conheceu Oram, Dakar, Diego-Suarez, Port Said, Alexandria. E, depois de uma escala em Boston e New York, abandonou a profissão do mar. O mundo estava às portas da guerra. Era 1914.<br /><br />Há muitas passagens obscuras na sua vida, informações vagas, dados incompletos. Nenhum dos seus biógrafos alude à sua viagem ao Brasil. Mas, evidentemente, foi nesse período que ela se realizou. Ho Chi Minh encontrou, em 1924, Astrogildo Pereira e Rodolfo Coutinho, que buscava o reconhecimento do PCB pela Terceira Internacional. Evocou os seus dias de Rio de Janeiroe revelou que muito impressionara a zona do mangue, o cheiro fétido, o mercado do sexo, subproduto do capitalismo nas condições do atraso semicolonial.<br /><br />Os três encontraram-se em Moscou. Ba agora se chamava Nguên Ai Quôc e ajudava a articular, na Comitern, a seção do sudeste Asiático. Astrogildo Pereira logo regressou ao Brasil, Rodolfo Coutinho permaneceu e com ele partilhou do mesmo quarto. Esse convívio o levou a aprender a língua portuguesa.<br /><br />Um ano mais tarde, porem, Nguyên Ai Quôc partiria para a grande jornada. Juntou-se a Hô Tung Mau e Lê Hông Phong, vietnamitas refugiados em Cantão, e criou a Associação da Juventude Revolucionara do Vietnam, que se tornaria a base para a formação do partido Comunista da Indochina, a força-motriz da revolução anticolonial.<br /><br />Nguyên Ai Quôc, que, anos antes, publicara em Paris, violenta denuncia contra o processo de colonização francesa(1) e colaborara, ativamente no L’Humanité, Lê populaire et Lê Paria, escreveu, em 1929, uma brochura, fixando as diretrizes para a revolução na Indochina, dentro dos princípios do marxismo-leninismo. Intitulava-se O Caminho da Revolução (Lê Chemin de la Revolution) (2) e suas idéias fundamentais se substanciavam nos seguintes pontos:<br />1. Amplas massas operárias e camponesas ¾ e não um punhado de homens – realizarão a revolução. Daí a organiza-las.<br />2. Um partido marxista-leninista deve dirigir a revolução.<br />3. O movimento revolucionário em cada pais deve li8gar-se estreitamente ao proletariado mundial. É preciso fazer de tal forma que a classe operaria e as massas trabalhadoras possam distinguir a Terceira (Comintern) da Segunda Internacional (reformista).<br /><br />“A burguesia sublevou-se contra o feudalismo, que a oprimia. Esta mesma burguesia tiraniza hoje a classe operaria e o campesinato, que constituem as forças motrizes da revolução” ¾ Dizia Nguyên Ai Quôc. <br /><br />Mas, o Partido Comunista do Vietnam (Vietnam cong san dang) só surgiu em 3 de fevereiro de 1930 e, em outubro do mesmo ano, transformou-se em Partido Comunista da Indochina (Dong duong cong san dang). E daí por diante, uma sucessão de combates sem trégua se compõe a vida de Ho Chi Minh. Após o fracasso da sublevação de YenBay, em Tonkin, e dos sovietes de Nghê Tinh, naquele mesmo ano, sobreveio a repressão e o movimento de massa entrou em declínio.<br /><br />Tran Phu, secretario geral do PCI, Phan Van Dông, futuro presidente do Conselho de Ministros da Republica do Vietnam, Tôn Duc Thang e muitos outros caíram presos. O tribunal de Vinh, em1931, condenou Ho Chi Minh a morte e a Sureté ( apolicia de segurança da França) pediu a sua extradição as autoridades inglesas de Hong-Kong, onde estava encarcerado. E, depois, correra a noticia que ele morrera naquela cidade. De 1938 a 1939, porem, Ho Chi Minh viveu em Moscou, de onde, regulamente, escrevia para o Tim Tuc (As Novidades), órgão do PCI. Retornou a China, em agosto de 1938, e serviu como comissário político da missão do general Ying, doutrinando os soldados de Chang Kai-chek, que refizera a sua aliança com os comunistas, diante do avanço dos japoneses.<br /><br />Estava cada vez mais próximo do seu objetivo: levantar a Indochina contra o jugo colonial. Aquele homem simples, franzino, que, manifestando indignação e tristeza, denuciou, no congresso sosialista de Tours (28.12.20), “as atrocidades praticadas na Indochina pelos bandidos do capitão”, Jamais perdera de vista o infortúnio de seu povo. A guerra mundial, que conflagrara a Europa e a Ásia, criara as condições para o inicio da jornada da libertação.<br /><br />Ho Chi Minh retornou a Indochina, em janeiro de 1941, após consolidar a primeira zona libertada, na região de Cão Bang. Ali começava a maior epopéia da história contemporânea: a história de um povo pobre, atrasado, oprimido, que teima em ser livre, resiste a luta, prefere sucumbir nas ruínas, a golpe de napalm, a renunciar à sua independência e demonstra, com toda a eloqüência do seu heroísmo e da sua resolução revolucionaria, a fraqueza da maior maquina de guerra do imperialismo mundial.<br /><br />A revolução é a poesia da historia, o momento de inspiração dos povos. Experiências acumuladas — frustrações e anseios, sofrimentos e alegrias ¾ transbordam, afloram à consciência, tomam forma, adquirem expressão, irradiam-se e empurram a humanidade para o sonho, puxando o sonho para a humanidade. Se toda a revolução tem a força da poesia, toda poesia, que sobrevive, tem a força da revolução.<br /><br />A Comuna de Paris, as insurreições de 1905 e 1917, na Rússia, os levantes da Alemanha e da Hungria, em 1919, a grande marcha de Mao TseTung, a guerra da Espanha, a revolução da China, as lutas de libertação da Argélia, o heroísmo de Sierra Maestra, a epopéia do Vietnam e o sacrifício de Guevara ¾ eis alguns episódios da historia contemporânea mais fecundos e mais ricos em poesia do que todos os cantos da Ilíada, da Odisséia, de Jerusalém Libertada, de O Paraíso Perdido ou de Os Lusíadas.<br /><br />A poesia da realidade manifesta-se com tanto poder de comunicação, que ofusca a realidade da poesia. Cada fato em si, que desponta nas manchetes dos jornais e nas noticias de radio, contem toda carga emocional de um poema, diante de qualquer outra palavra se desvanece. É impossível criar alem da criação. Talvez, por isso mesmo, mingúem tenha posto em verso as epopéias da idade contemporânea. E as epopéias são próprias das idades de transição, em que se constrói na ruína, a morte significa vida e o ocaso se confunde com a aurora.<br /><br />Marx, Trotsky, karlo Liebknecht, maoo Tse-tung, Lumumba e muitos revolucionários escreveram versos, dedicaram-se à poesia. Todos encontraram na política, posteriormente, uma forma de expressão mais poderosa para sua criatividade. No caso de Ho Chi Minh, porem, se a obra do revolucionário traduz o espírito do poeta, a obra do poeta explica o espírito do revolucionário. Não se pode compreende-lo como combatente sem conhece-lo como artista.<br /><br />“O Vietnam é um pais onde o presidente envia suas saudações e suas ordens do dia, sob a forma de poema, e, seguidamente, termina seus discursos em versos” ¾ comenta Madeleine Riffaud (3). E observa: “Mais a luta endurece, mais os vietnamitas necessitam de poesia. Necessitam da poesia como de um pouco de arroz”.<br />Aproxima-se a primavera e componho este poema para meus compatriotas do país inteiro.<br /><br /> Que combatam a agressão americana<br /> E novas vitórias<br /> Como flores desabrochem. (4)<br /><br /> O estadista, que formulou nesta saudação para o Ano Novo de 1967, é o mesmo guerrilheiro que nas florestas de Cao Bang, escrevia:<br /><br /> Vozes das fontes claras: canção longínqua.<br /> A lua penetra a arvore secular.<br /> O vento penetra as flores.<br /> A paisagem noturna desenha-se como um quadro.<br /> O homem dorme.<br /> Ele pensa e repensa em sua pátria, angustiado.<br /> Nosso país atravessa duros momentos.<br /> Precisamos meditar em centenas e milhares de tarefas.<br /> Os negócios de Estados, irmos, apóiam-se sobre vossos esforços,<br /> Esforços maiores ainda.<br /> Maior vitória.<br /><br /> Eu leio e o pássaro das florestas vem gemer diante de minha porta.<br /> Escrevo minhas idéias sobre o livro<br /> E as flores das montanhas miram-se no tinteiro.<br /> Chegam-me noticias de vitórias.<br /> O mensageiro estar para vir.<br /> Recordo-me de você e lhe ofereço estes versos. (5)<br /><br /><br />Não se pode ler, entretanto, a poesia de Ho Chi Minh com os mesmos olhos que se habituaram aos padrões do Ocidente. Seus poemas, na maioria, são curtos e lembrariam os haicais dos japoneses. Encerram, freqüentemente, uma anedota. Ho Chi Minh, através das contradições que joga em cada verso, imprime-lhe um conteúdo ético. O lirismo do romântico ¾ quiça uma ressonância do seu tempo de França--- funde-se no realismo do revolucionário. A sátira transparece no drama. A esperança toma lugar do desespero. O otimismo aponta na tragédia.<br /><br /> Pela manhã, escalando o muro, o sol <br /> vem bater à porta. A porta está fechada<br /> e a noite continua no fundo da prisão.<br /><br />Os poemas de Ho Chi Minh refletem a revolta do combatente na mansidão do estóico. É o sábio que fala pela voz do poeta. <br /><br /> O palácio de toda a historia<br /> se constrói sobre o povo inteiro. (6)<br /><br />Não se encontrara, nos seus versos, a fúria da palavra, mas, a sutileza da sabedoria. Não a comunicação pela imagem e sim à imagem pela comunicação.<br /><br />Os Poemas do Cárcere datam-se do período em que resvalou pelas prisões do Kuomintang. Aprisionara-o a policia de chang Kai-chek, quando ele, em agosto de 1942, atravessou a fronteira da China. Dirigia, na época, o maquis da região de Cão Bang e, como representante da Liga pela independência do Vietnam (Viêt Minh), buscava articular a resistência contra os invasores japoneses.<br /><br />Iniciou-se o calvário. De T’oung Tchéng a P’íg Mà, de Nân ning a Tsing Si, de Kwei Lin a Lieu Tchèou, coberto de chagas, que lhe ornamentavam o corpo como as vestes de seda dos mandarins, com frio, com fome, caminhando às vezes, 50 quilômetros a pé ou dependurados pelas pernas ao teto de um junco, dormindo junto às latrinas ou amarrados como frango no espeto (assim se chama, na China, o pau-de-arara) ¾ todos os sofrimentos e torturas se abateram sobre aquele homem, mas não lhe quebraram o moral. E até a noticia da sua morte, novamente, ocorreu.<br /><br />Os Poemas do Cárcere contam esse trajeto de sua vida. Não se trata de uma autoglorificação, de uma elegia à desgraça, mas, de um testemunho e de um protesto, eivado de fé e de humanismo. Escreveu-os no chinês clássico, falando, ao tempo da dinastia dos T’ang, entre os séculos IV E IX. Não usou o idioma do Vietnam, O Quô Ngu, para evitar que descobrissem a sua nacionalidade. Ele se identificou como um jornalista chinês, que vivia na Indochina. E, como dizia Madeleine Rffaud, (7) Ho Chi Minh “maneja tão bem a língua dos como as formas de expressão popular”. <br /><br />Homem simples, modesto, refratário ao culto da personalidade, apesar da liderança incontestável, que exerce sobre o seu povo, e do prestigio mundial de que desfruta, Ho Chi Ming sempre se recusou a falar de si próprio, nos raros contactos que manteve com a impressa do ocidente. Phan Nhuan, que traduziu seus poemas e escreveu a apresentação, narra uma passagem bastante significativa. Era junho de 1946, em Paris. “Um homem magro, profundamente marcado pelos sofrimentos e privações, estava sentado diante de um buquê muito simples de rosas encarnadas”. Ao seu redor, uma centena de repórteres e observadores de todos os paises. O presidente Ho Chi Minh chefiava uma delegação do governo do Vietnam que negociaria com os franceses a sua independência. Um jornalista, “jovem e rosado”, perseguiu-o, durante um quarto de hora, com suas perguntas insidiosas e, não contente, insistia:<br /> <br />¾ Presidente o senhor é comunista?<br />O homem, pacientemente:<br />¾ Sim.<br />¾ Fez a resistência?<br />¾ Sim.<br />¾ Quanto tempo?<br />¾ Mais ou menos quarenta anos.<br />¾ Esteve também na prisão!<br />E, vendo onde o jornalista queria cegar, descreve Phan Nhuan, Ho Chi Minh novamente respondeu com o monossílabo:<br />¾ Sim.<br />¾ Que prisões?<br />¾ Muitas prisões senhor.<br />¾ Quanto tempo?<br />“O homem magro sorriu um certo sorriso, observando o jornalista jovem e rosado” ¾ registrou Phan nhuan. E respondeu:<br /> ¾ Quando se estar na prisão o tempo é sempre longo.<br /><br />Os Poemas do Cárcere constituem, assim, a resposta que o jornalista, “magro e rosado”, Tanto buscou. Vale como um depoimento autobiográfico e um retrato da alma desse homem, que conduz, há quase três décadas, o povo do Vietnam no caminho da libertação.<br /><br />Há personalidades, que sintetizam as virtudes do seu povo, que representam, qualitativamente, a quantidade e fecundam a historia. Quando se diz Ho Chi Minh, fala-se de todos os revolucionários que lutam e morrem no Vietnam. Ele é como aquele monge incendiado, que se dispõe ao sacrifício, mas com a metralhadora na mão.<br /> <br />MONIZ BANDEIRA<br /><br />Rio, junho de 1968.<br /><br /><br /> (1) Lê procès de lá colonisation française – reeditado em Hanói, 1962, Editions enlangues étrangères.<br /> (2) Lê Chemin de la Révolution – in Ho Chi Minh, Jean lacouture, Editions du Seuil, Paris, 1967.<br /> (3) Au Nord Vietnam ¾ Juliard, Paris, 1967.<br /> (4) I Au Nord Vietnam<br /> (5) I Au Nord Vietnam<br /> (6) Op. Cit.<br /> (7) Op. Cit.<br /><br /><br /><br /><br />DIARIO DA PRISÃO<br /><br />Aqui teu corpo estar preso na cela.<br />Teu espírito, não ele está livre.<br />Se queres continuar tua missão,<br />deves manter elevado o teu moral.<br /><br /><br /><br />EM PRIMEIRA MÃO<br /><br />Versos jamais me apaixonaram tanto.<br />Mas, sem nada a fazer prisioneiro,<br />distraio os dias, que são longos, rimo<br />enquanto espero ver a liberdade.<br /><br /><br /><br />CHEGADA À PRISÃO DE TSÎNG SI (*)<br /><br />O novo preso, acolhem-no os veteranos.<br />Nuvem de azul perseguem tempestade.<br />Livremente no céu as nuvens passam.<br />Um homem livre, só, resta no cárcere. <br />(*) Cidade principal um hsién (espécie de município) do mesmo nome, subordinada à província de Kouàng Si. (nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />CAMINHO DA VIDA<br /><br />Montes atravessei, venci as alturas.<br />As planícies são mais difíceis de passar.<br />Não me fizeram mal os tigres das montanhas,<br />mas encontrei um homem e ele me prendeu.<br /><br />O novo Vietnam eu represento<br />em vista de amizade aos chefes de um país irmão.<br />É o oceano que contra a terra se arrebenta?<br />Vejo que me reservaram as honras da cadeia.<br /><br />Sou um homem honesto e tranqüilo:<br />imaginam-me um chinês tenebroso.<br />É sempre difícil o caminha da vida,<br />Mas viver sua vida ,não é nada fácil.<br /><br /><br /><br />SARAU<br /><br /><br />Ao por do sol quando o jantar termina,<br />ouve-se musica por toda parte.<br />Sombria e melancólica, Tsíng Si<br />Parece transforma-se em uma academia.<br /><br /><br /><br />REFEIÇÃO DE PRISIONEIRO<br /><br /><br />Uma tigela de arroz vermelho: (*) <br />Qualquer refeição.<br />Nem legumes, nem sal, nem mesmo caldo.<br />Aquele que possui quem lhe abasteça pode comer <br /> [na cadeia.<br />Quem não possui ninguém grita<br /> pai e mãe.<br /> <br /><br /><br />A FLAUTA DO COMPANHEIRO DE PRISÃO<br /><br /><br />Uma canção de nostalgia<br />subitamente inunda as celas da cadeia.<br />O tom, gemido. O ritmo, soluço.<br />Que sofrimento ver-se do outro lado,<br />por vales e montanhas,<br />sombra de uma bandeira<br /> que tristemente espera.<br /><br /><br /><br />TRONCO (*)<br /><br />Goela faminta, demônio cruel<br />Todas as noites<br />Morde e devora nossas pernas.<br />A garganta animal tragando o pé direito<br />Em quanto o pé esquerdo esperneia sozinho.<br /><br /><br />(*) Instrumento de tortura medieval, formado de um cepo com olhais, onde mete o pé do condenado. (Nota dos tradutores).<br /><br /><br /><br />O JOGO DE XADREZ<br /><br /><br />O jogo de xadrez ocupa o tempo.<br />Lutam sem trégua infantes e cavalos. (*)<br />Como um raio afastar-se<br /> e atacar como um raio.<br /><br />A tenção e destreza o avanço guiam.<br />Como minúcia e largueza de visão,<br />resoluto e tenaz, acossar sem descanso.<br />De que serve seus carros se caíste no impasse?<br />Um peão bem colocado o jogo vence.<br /><br /><br />O equilíbrio de um lance encurrala o inimigo.<br />A vitória final se delineia.<br />Prepara bem teus golpes,<br />mantém secreto o plano,<br />que assim se tornaras um grande capitão.<br />(*) Na china, a terminologia do jogo de xadrez baseia-se na do antigo exercito. O peão chama-se infante ou soldado de infantaria; o rei, capitão ou general: a torre e a dama, carro. (nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />A LUA <br /><br /><br />Que fazer ante o encanto da noite e a beleza do<br /> [tempo?<br />Através das grades o homem contempla a lua.<br />A lua contempla a lua através das grades.<br /><br /><br /><br />A RAÇÃO D’ÁGUA<br /><br /><br />Meia bacia é a ração d’água.<br />Faz-se o que quer: asseio ou chá.<br />Você quer se lavar?<br />Esqueça o chá<br />Você quer o chá?<br /> Deixe o asseio.<br /><br /><br /><br />JOGO DE AZAR<br /><br /><br />Persegue-se lá fora os jogadores.<br />Mas na prisão campeia livre o jogo.<br />O que vai preso varias vezes chora<br />só ter reconhecido o lugar certo.<br /><br /><br /><br />JOGADORES PRESOS<br /><br /><br />As prisões não sustentam jogadores<br />Para regeneraram mais depressa:<br />vive com nababo (*) o que tem posses<br />e o que chora e baba aos bordões.<br /><br />(*) No original: Ngén ¾ gíria de prisão usada para designar uma espécie de caíde, mas, sobretudo em relação à riqueza. (nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />AO CAIR DA NOITE<br /><br /><br />O pássaro cansado volta ao ninho<br />Entre as sombras do bosque.<br />Vagueia a nuvem pelo céu deserto.<br />Uma jovem na aldeia moe o milho<br />e o fogo inflama sua luz vermelha.<br /><br /><br /><br />NOITE EM LONG TS’IUEN<br /><br /><br />Correm durante o dia os meus cavalos rápidos. (*)<br />Como um frango no espeto. (**) eu a noite me <br /> [sinto.<br />O frio a aproxima-se, os piolhos traiçoeiros.<br />Mas com o verdelhão por sorte canta o dia (***)<br /><br /><br />(*) O poeta alude ás suas pernas que, a pé, perfaziam 53quilômetros durante ao dia, para velas-la à noite, metidas em ferros, como frango no espeto ou, mais exatamente: como frango em cinco temperos, versão chinesa do frango no espeto, que consiste em amarrar as pernas e as asas da ave, aromatiza-la e arrumar as coxas artisticamente retorcidas.<br />(Nota da edição vietnamita).<br /><br />(**) Espécie de tortura, como pau-de-arara (Nota dos tradutores)<br /><br />(***) Pássaro cujo macho tem o peito amarelo e as asas negras. As fêmeas são azuis e possuem as asas negras.(Nota dos tradutores).<br /><br /><br /><br />T’IEN TOUNG<br /><br /><br />No almoço e no jantar as tigelas de papas.<br />Virando sem parar, ronca e berra a barriga.<br />Poe três yuans arroz seco enraivece o estomago.<br />Ah! o arroz é de perola, o pau de canela! (*)<br />(*) É uma expressão para indicar a carestia de vida. Na Europa, diz-se: o arroz é de ouro. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />AO CHEGAR Á PRISÕA DE TIEN PAO<br /><br /><br />Cinqüenta e três quilômetros ao dia,<br />meias rotas, chapéu, roupas molhadas.<br />Sem saber o lugar onde dormir<br />aguarda na latrina o sol nascer.<br /><br /><br /><br />A MULHER VISITA O MARIDO PRESSO<br /><br /><br /><br />Ele<br />detrás das grades<br />Ela <br /> diante.<br />Tão próximos: uma polegada.<br />E tão distantes: o céu da terra.<br />O que a boca deve calar<br />os olhos contam.<br />Antes da palavra<br />as lagrimas nas pálpebras.<br /><br /><br /><br />ORGANIZA-SE A RECEPÇÃO SOLENE DE WILKIE (*)<br /><br /><br /><br />(A imprensa anuncia)<br /><br /><br />Como tu, amigo da China. <br />Como tu, indo a Tch’oûng King.<br />Estás sentado no salão.<br />Eu, prisioneiro.<br />Como tu, sou também delegado.<br />Por que a diferença?<br />Parcialidades dos homens.<br />As águas sempre correm para o Oriente. (**)<br />(*) Chefe de uma delegação norte-americana que estava na China em 1942. (Nota da edição vietnamita).<br />(**) Poucas pessoas observam no mapa geográfico, que todos os rios da China (o rio Amarelo, o Yang Tseù ou o Si Kiang) correm para o leste. Daí o celebre verso que passou a provérbio: “Desde os tempos antigos que as águas correm para o Oriente”. (Nota da edição vietnamita). <br /><br /><br /><br />EXTORÇÃO DIRIGIDA A SI PRÓPRIO<br /><br /><br />Se não houvesse o luto, a morte, o frio do inverno,<br />quem reconheceria o frio do inverno?<br />O acaso conduziu-me aos fornos das desgraças<br />para fazer-me forte e de consciência rija.<br /><br /><br /><br /><br />RESTAURANTE<br /><br /><br />Entre sombras, à beira do caminho<br />numa casa de palha o restaurante.<br />Pirão frio e sal branco, no menu,<br />retém o forasteiro alguns momentos.<br /><br /><br /><br /><br />A PRISÃO EM KOUO TE<br /><br /><br /><br />Como em família vive essa casa de força.<br />Azeite, lenha, arroz e sal ¾ todos possuem.<br />Cada cela parece um lar do prisioneiro:<br />Todo dia cozinha o arroz e o caldo engrossa.<br /><br /><br /><br />A TRANSFERENCIA DO PRISIONEIRO PELA<br /> MADRUGADA<br /><br /><br />Primeiro canto do galo<br />pela noite de negro ainda.<br />Como uma escolta de estrelas<br />a lua emerge dos montes.<br />O viajante segue a estrela,<br />rota de grandes viajantes.<br />Rajadas frias de gelo<br />o vento de outono sopra.<br />O seu rosto fustigado.<br />O clarão que rasga o Oriente<br /> já se transforma em aurora<br />e varre os restos da noite.<br />Um bafo de fogo envolve<br />tanto a terra como o céu.<br />O viajante sente súbito<br />a poesia crepitando.<br /><br /><br /><br /><br />DE LONG NGAN A T’UOONG TCHENG<br /><br /><br /><br />A região é intensa e a terra tão ingrata.<br />O homem ama o trabalho e ama a economia.<br />Parece que não veio a chuva à primavera:<br />Ceifam-se dois ou três dos dez feixes sonhados.<br /><br /><br /><br />O CAMINHO<br /><br /><br />Se levo fortemente atados os meus braços,<br />ouço os pássaros, sinto o perfume das flores.<br />Quem me pode impedir essa felicidade<br />que me faz menos só e a marcha menos triste?<br /><br /><br /><br />T’OUNG TCHEENG<br /><br /><br />Na prisão de T’oung Tcheng o mesmo que em<br /> [ Pîng Má.<br />Simples mingau que deixa a barriga vazia.<br />Tem-se a água que quer e a luz que se deseja:<br />Abre-se a porta ao ar duas vezes por dia.<br /><br /><br />COBERTO DE PAPEL DO COMPANHEIRO DE PRISÃO<br /><br /><br /><br />Livros novos, papéis velhos são amontoados.<br />Cobertor de papel é melhor que nenhum.<br />Abrigados do frio os ricos adormecem<br />Enquanto na prisão tantos tremem sem sono.<br /><br /><br /><br />NOITE DE OUTONO<br /><br /><br />À noite, o corpo e as pernas enroscadas.<br />Nem colchão nem coberta, insone ao frio.<br />Sob o gelo da lua, as bananeiras.<br />A Ursa maior oscila na vigia.<br /><br /><br /><br />PERNAS E BRAÇOS AMARRADOS<br /><br /><br /><br />Enrolam-se os dragões nas pernas e nos <br /> [braços (*).<br />Terão os generais dragonas mais bonitas?<br />Em fios de ouro são as dragonas que <br /> [ostentam.<br />As minhas ¾ podem ver ¾ são belas cordas <br /> [grossas.<br /><br />(*) Os dragões eram atributos dos imperadores chineses e vietnamitas, os emblemas de majestade, por causa de seus ancestrais totêmicos. (Nota da edição vietnamita.)<br /><br /><br /><br />ADEUS A UM DENTE<br /><br /><br /><br /><br />Inabalável foste,<br />a vida de sete fôlegos.<br />Eras tão diferente de tua irmã mais velha, (*)<br />flexível, incomensurável. <br />Partilhamos juntos o gosto da vida.<br />E agora nos separam<br />meu dente inseparável.<br /><br /><br />(*) trata-se da língua ¾ irmã mais velha do dente ¾ porque o precede na vida. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />A MULHER DO INSUBMISSO (*)<br /><br /><br /><br />Meu esposo partiu e não retorna.<br />Fiquei Abandonada ao meu desgosto.<br />Minha dor comoveu o mandarim<br />Que me envia à prisão para descanso.<br /><br /><br />(*) Quando um homem não queria ser soldado, o governo prendia sua mulher e seus filhos. Procedimento bárbaro que o autor desmoraliza. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br /><br /><br />ESTORIA PARA RIR<br /><br /><br /><br />A morada oficial, o arroz do estado,<br />A guarda se reveza a cada passo.<br />Horas de ócio, passeio à vontade.<br />Não acham muita honra para um homem?<br /><br /><br /><br />ACORRENTADO A CAMINHO DE NÂNG NÎNG<br /><br /><br /><br />A corda é bem vulgar. Trocam-na por grilhões<br />que provoca os sons de jade e camafeu.<br />Suspeito como espião aos olhares dos guardas,<br />que caminhar de rei, que porte de fidalgo! (*)<br /><br /><br />(*) quando dignatários e importantes homens de letras achavam-se, outrora, em audiência solene na corte, usavam cinturões enfeitados de pedras preciosas, que produziam singular ruído. ( Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br /><br />NA ESTRADA... OS GUARDAS CARREGAVAM UM PORCO<br /><br /><br /><br />Carregando um leitão, os guardas me puxavam.<br />Vai nos braços um porco, um homem na coleira.<br />Um porco vale mais. É baixo o preço de um homem <br />quando não pode usar a sua liberdade.<br /><br /><br /><br />Entre mil aflições, centenas de infortúnios,<br />Perder a liberdade é o que pior existe.<br />Quando cada atitude e cada gesto espreitam,<br />sois um cavalo, um boi que qualquer um maneja.<br /><br /><br /><br /><br /> NO MEIO DO CAMINHO TOMO O JUNCO<br /> YONG MÎNG (NANG MÎNG)<br /><br /><br />Deslizo pelas águas para Yong Mîng.<br />Os pés presos ao teto, torturado. (*)<br />Os povoados são densos sobre o rio,<br />Dos pescadores leves as sampanas.<br /><br /><br /><br />(*) A s autoridades nacionalistas realizavam a transferência dos prisioneiros, pendurando-os, pelos pés, ao teto de um junco. De cabeça para baixo, esse prisioneiro parece não perder a visão otimista do mundo. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />A PRISÃO DE NANG NÎNG<br /><br /><br /><br /><br />Uma prisão no estilo ultra-moderno.<br />Farta iluminação a luz elétrica.<br />Um pirão sem tempero, a refeição:<br />A barriga vazia ronca e vira.<br /><br /><br /><br /><br />UM GALO CANTA<br /><br /><br /><br />És um animal comum<br />que anuncia o sol.<br />Ao primeiro canto<br /> um povo emerge do sono.<br /> O trabalho que fazes não é tão desprezível.<br /><br /><br /><br /><br />UM JOGADOR DETIDO ACABA DE <br /> “PIFAR” (*)<br /><br />Ele não era mais que pele sobre os ossos.<br />Não agüentava a fome, o frio, essa miséria.<br />Apoiado em meu ombro dormiu à noite, ontem,<br />E no seio da terra entrou antes da aurora.<br /><br /><br />(*) No original em gíria. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />MAIS OUTRO...<br /><br /><br /><br />Yi, Ts’î (*) não comiam arroz dos tiranos Tcheou.<br />O jogador rejeita a comida do cárcere.<br />Yi, T’sî morreram de fome nos montes Cheòu<br /> [Yang.<br /><br />(*) Yi, T’sî são dois personagem semi-histórico e semi-lendários, que existiram no fim do penúltimo milênio antes da era cristã, e se tornaram símbolo de fidelidade a um principio moral. Naquela época, a Flor-Central, sob a suserania nominal dosYin, estava de fato dividida em inúmeros estados-tribos, independentes uns dos outros. Yin T’sî ¾ em nome da ética tribal ¾ desaconselhavam o chefe dos Tcheou ¾ um dos mais fortes principados ¾ a não empreender a guerra de hegemonia que ele preparava. O Tcheou entretanto, conseguiram vencer os Yîn e dominar toda a Planíce Central. A fim de não comer o arroz dos Tcheou, que iria comprometer-los, Yi Ts’î retiraram-se para a floresta, viveram de plantas e morreram de fome. O jogador a que se refere o poeta, não será por acaso um sábio conservador desse principio? (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />PRIBIDO FUMAR<br /><br /><br /><br />É proibido fumar nesse recinto.<br /> O fumo confiscado o guarda usa.<br />Ele pode fumar quando quiser,<br />Mas, se fumas, irmão, botam-te algemas.<br /><br /><br /><br />CREPÚSCULO<br /><br /><br />No rebolo dos montes a espada dos ventos se afia.<br />Um frio de lamina atravessa a carne dos maciços.<br />Soa ao longe um sino... Apressa-te peregrino!<br />A criança recolhe o búfalo<br /> soprando flauta.<br /><br /><br /><br />INSÔNIA<br /><br /><br /><br />Uma noite sem dormir. Duas noites. Três noites.<br />Impossível dormir! Agito-me, angustiado.<br />Quarta noite. Quinta noite... Será sonho? Vigília?<br />Cinco pontas de uma estrela enrolam meus pensamentos. (*)<br /><br /><br />(*) A bandeira da resistência vietnamita tem uma estrela de cinco pontas sobre um fundo vermelho. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />PENSANDO NUM AMIGO<br /><br /><br />Pelas margens do rio outrora me seguias.<br />De te me despedia: até outra colheita.<br />O arado novamente arranhou a planície<br />e, longe do pais, me fazem prisioneiro.<br /><br /><br /><br />A SARNA<br /><br /><br />Coberto de azul (*) e manchados de chagas.<br />Que damasco em flor!<br />Violas sensíveis que todo dia dedilhamos. <br />Vestidos em damasco, belos Senhores do Cárcere...<br />Que concerto de corações!<br />Que concerto de musica!<br /><br />(*) O poeta refere- se a cianose, enfermidade produzida por embaraço circulatório e que provoca uma coloração azulada na pele. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br />CANTO DO ARROZ DESCASCANDO <br /><br /><br />Sofre o arroz o choque do pilão.<br />Repare que brancura após a prova.<br />Também um homem para ser um homem<br />Tem que sentir o golpe do infortúnio. <br /><br /><br /><br />“HOTEL PARA VIAJANTES” <br /><br /><br /><br />O novo prisioneiro quando chega <br />deve deitar perto da latrina.<br />Mas se queres melhor alojamento<br />Junte algum dinheiro às escondidas.<br /><br /><br /><br /><br />CLARA MANHÃ <br /><br /><br /><br />Sombras, fumaça, nevoa se dissipam,<br />quando o sol da manhã entra no cárcere.<br />Um sopro, que remova, inunda a terra.<br />Volta o sorriso a cem rostos fechados.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />ALERTA NO VIETNAM<br /><br /><br /><br />Informação da Agencia Tch’é Tão, publicada na impressa de Nân Nîng.<br /><br /><br />Antes a morte à vida como servo.<br />Quando as bandeiras livres se desfraldam,<br />Que desgraça resta numa enxovia<br />e não poder lançar-me nas batalhas.<br /><br /><br /><br /><br />PRATO DE CACHORRO EM PÃOHSIANG<br /><br /><br /><br /><br />Comem em Koùo Te peixe “`la fraîche”. (*)<br />Em Pão Hsiang fazemjus ao prato de cachorro.<br />Os guardas de minha repugnante escolta<br />sabem as vezes viver e comer bem.<br /><br />(*) Peixe cru: iguaria requintada que se come no Oriente. (Nota dos tradutores)<br /><br /><br /><br /><br />O COOLE CONSTRUTOR DE GRANDES <br /> ESTRADAS<br /><br /><br />Sem trégua, sem repouso, à chuva e vento,<br />trabalha o coole. Vida de miséria.<br />Cavalheiros, pedestres, transeunte,<br />quando se lembrarão de suas dores?<br /><br /><br /><br /><br />O MEU BASTÃO ROUBADO POR UM <br /> GUARDA<br /><br /><br />Sempre foste direito, infatigável, firme.<br />Fundido à minha mão, andamos pelos anos.<br />Maldito seja quem nos separou! Patife!<br />Solitário deixou-te. E a mim, inconsolável.<br /><br /><br /><br />MARCO DE QUILÔMETROS<br /><br /><br /><br />Nada de grande, extraordinário,<br />De imperia ou principesco:<br />Nada mais que simples bloco de pedra<br />á beira da estrada.<br />As pessoas te buscam <br />para não se perderem.<br />Indicas o caminho a cada um<br />e o tamanho do trajeto.<br />Isto não é nada, pequena pedra!<br />Mas ninguém poderá esquecer-te.<br /><br /><br /><br />O PREÇO DA LUZ<br /><br /><br /><br />Ao entrar na prisão pagas a luz.<br />Seis dólares (*) por homem: em Kouáng-Si.<br />Nesse lugar sombrio ¾ o mais escuro ¾ <br />não vale um centavo (**) a luz do dia.<br /><br /><br />(*) A velha moeda Yuân, chamada comumente dólar chinês, não tem nenhuma relação com o dólar. Seu valor real era mínimo.(Nota da edição vietnamita).<br />(**) Em francês, liard: antiga moeda de cobre, francesa, equivalente a um quarto de soldo.<br />(Nota dos tradutores).<br /><br /><br /><br />A VIDA NA PRISÃO<br /><br /><br /><br />Um fogareiro cada qual possui.<br />A marmita ajustada ao seu tamanho.<br />Para fazer chá, arroz, legumes,<br />Arde o fogo sagrado todo o dia.<br /><br /><br /><br />O BOM SENHOR KOÛO<br /><br /><br /><br />Providencial acaso, encontro formidável!<br />Como direi? O bom senhor Koûo foi para<br />mim como em noite fria o fogo de carvão.<br />Sob os céus, corações assim existem ainda?<br /><br /><br /><br />MÔ, O CARCEREIRO DE PIN YÂNG<br /><br /><br /><br />Mo, guarda de Pin Yâng, a fama de bravura,<br />com seu próprio dinheiro alimenta os detentos.<br />Liberta-os grilhões para que à noite durmam<br />Segue seu sentimento e não a autoridade. <br /><br /><br /><br /><br />ELE QUERIA FUGIR<br /><br /><br /><br />Só trazia uma idéia: liberdade!<br />Do carro se lançou, jogando a vida.<br />Correu trezentos metros (*) de aventura:<br />trouxeram-no de volta os mesmos guardas.<br /><br />(*) Na edição vietnamita, demi-Li, ou seja, meia-Li.<br />Li: medida chinesa equivalente a 600 metros mais ou menos.<br />(Nota dos tradutores).<br /><br /><br />EM LAI PIN <br /><br /><br />Passa o dia jogando o chefe da prisão.<br />O guarda-chefe rouba os presos que transporta.<br />O hsièn-chefe despachas os papeis no escritório.<br />Nada muda em Lai Pi: há sempre a Grande <br /> [Paz (*)<br /><br />(*) A Grande Paz (T’ing P’ing) é a Pax romana da China Imperial, a paz dos mandarinos.<br />(Nota da edição vietnamita)<br /><br /><br />MEIA NOITE<br /><br /><br />Todos, dormindo, a mesma expressão de inocência.<br />O despertar divide em bons e maus os homens.<br />Bom, mau ¾ ninguém assim de natureza nasce. <br />A educação depois o seu caráter forma.<br />QUATRO MESES JÁ<br /><br /><br /><br />“Um dia encarcerado:<br />Mil anos lá fora”.<br />Não é vã palavras <br />este provérbio antigo.<br />Quatro meses na cela<br />destruíram meu corpo<br />mais que dez anos de vida.<br />Quatro meses de fome,<br />quatro meses de insônia,<br />sem mudar de roupa<br />sem poder me lavar.<br />Abandonou-me um dente,<br />cabelos branquearam,<br />negro, magro, faminto,<br />vestido de sarna e de feridas.<br />Mas paciente sou,<br />duro, rijo,<br />sem recuar um palmo.<br />Materialmente miserável,<br />o moral, firme.<br /><br /><br /><br />CHEGADA A KOUÉ-LIN (*)<br /><br /><br /><br />Nome impróprio Koué-Lin: nem bosque nem canela,<br />Somente águas sem fundo e montes sem acesso.<br />Ao pé de uma figueira, uma triste prisão,<br />Sem luz durante o dia e de noite sem vozes.<br /><br /><br />(*) Koué-Lin (Quê-lam em vietnamita) significa bosque das caneleiras ou, mais exatamente, das canifístulas. É o nome de uma localidade em Kouàng-Si. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br />DIREITO DE ENTRADA NA PRISÃO<br /><br /><br /><br />Ao entra na prisão também se paga,<br />Cinqüenta dólares (*) a preço baixo,.<br />Se te falta dinheiro para a conta<br />Um calvário te espera a cada passo.<br /><br />(*) Dólar chinês. (Nota dos tradutores)<br /><br /><br /><br />?!<br /><br /><br />O que tanto sofri durante quarenta dias!<br />Inútil sofrimento enfrentei tanto tempo.<br />É preciso fazer o retorno a Leoù Tcheou:<br />Um homem se entrega e você solta bílis.<br /><br /><br /><br />ANTE O BIRÔ POLÍTICO DA QUARTA<br /> ZONA DE GUERRA<br /> <br /><br />Arrastão por treze hsién da região de Kouàng-Si.<br />Detidos em dezoito prisões infectadas.<br />Que crime terei eu cometido, mandarins veneráveis?<br />Crime de amar o povo e consagrar-lhe a vida.<br /><br /><br /><br />IMPRESSÕES DE UM NOITE<br /><br /><br />Abre-se a rosa<br /> a rosa fenece<br />em saber o que faz.<br />Mas se uma rosa-perfume<br />na prisão se perde<br />gritam no coração<br />do confinado<br />todas as injustiças do mundo.<br /><br /><br /><br /><br />A EPOCA DO TS’ING MÎNG (*)<br /><br />A pura claridade de Ts’ing Mîng, a chuva fina.<br />A alma do prisioneiro as tristezas invadem.<br />Onde obter aqui liberdade?<br />Dos mandarins a porta o guarda ao longe aponta.<br /><br />(*) ts’ing Mîng ou pura claridade é o período do antigo calendário chinês que conresponde, mais ou menos, à primeira quinzena de abril. Se na literatura, o Ts’ing Mîng é a época do ano em que, sob um céu límpido, florescem as pereiras e as paulownias (1), é também a época em que na China do Sul, cai uma chuva fina e desesperante, que provoca um estado de espírito particular. Sob essa forma de spleen (2), conserva-se da dinastia T’âng uma estrofe célebre que o autor adaptou. Para isso, foi suficiente mudar dez caracteres do poema T’âang, de um pessimismo calculado, e transformar a tristeza em humor. (Nota da edição vietnamita)<br /><br />(1)Paulownia: arvore do Extremo Oriente, com flores aromáticas, gênero das plantas emolientes. Atinge a altura de quinze metros e as folhas medem trinta centímetros.<br />Plantam-se nos parques e ao longo das ruas. Origem do nome: Ana Pauwona, filha do czar Paulo I. (nota dos tradutores)<br />(2) Spleen: estado de espirito que se caracteriza por completo aborrecimento de tudo. (Nota dos tradutores).<br /><br /><br /><br />IMPRESSÕES DO OUTONO<br /><br /><br /><br />A Ursa Maior nos montes. São dez horas.<br />Sua alegria o grilo canta. Outono.<br />Que importa ao preso tanta natureza<br />Se só um canto escuta: a liberdade.<br /><br /><br />O outono viu-me livre no outro ano<br /> e eis que me encontra agora prisioneiro.<br />Sou menos útil ao meu povo amado?<br />Este outono bem vale o que passou.<br /><br /><br /><br />PERDER A LIBERDADE <br /><br /><br />Que tristeza perder a liberdade!<br />Triste senhor do céu, sem coração!<br />Sapatos em frangalhos, pés na lama,<br />Devo andar sem descanso a qualquer custo.<br />PENSAR NOS DIAS PASSADOS<br /><br /><br /><br />Pensaria o céu, em trancar um herói?<br />Oito meses à morte em ferro e correntes.<br />Longe do sol, ó preço de uma sombra humana!<br />Mas quando se abrirão as portas da cadeia? (*)<br /><br />(*) Esse verso faz parte do celebre apelo aos intelectuais, do patriota Phan Chaâu Trinh, em prol de um concurso trienal no inicio desse século, quando o Vietnam acabava de perder sua independência:<br /><br /> ................................................<br /><br /> Truông chu bach niên thoa ma<br /> Bãt tri hà nhât xuât lao lung?<br /> <br /> (Ficaremos cem anos curvados sob ultrajes,<br /> mas quando, se abrirão as portas da prisão?)<br /> (Nota da edição vietnamita)<br /><br /><br />EVOCAÇÕES<br /><br /><br />Hirsuta, negra, a copa<br />Arvore desgrenhada,<br />retrato de Tchang-Fei (*)<br />O constente Kouan Yù<br />¾ o sol nascente a minha<br />lealdade testemunha.<br />Sem noticias da pátria<br />Durante todo um ano,<br />Sempre esperando um eco.<br /><br /><br />(*) Tchang-Fei e Kouoan Yù soa dois heróis da época dos Três Reinos (séc.III), que, com Lieôu Péi, o futuro rei dos Chou, combateram pela legitimidade Ham, considerada como causa justa. Um romance histórico muito popular ¾ Três Reinos ¾, do século XIV, exalta a fraternidade desses três companheiro de armas, cujas figuras permanece mais viva s no coração dos chineses do que os Três Mosqueteiros no dos franceses.<br />Kouan Yù, um misto de Marte, Aquiles e Bayard, é venerado após os Song, nos paises de tradição chinesa ¾ no Templo das Virtudes Militares, como símbolo da retidão, Constancia e bravura. Tchang-Fei, representado na estatuaria sob os traços de um personagem hirsuto, escuro é o tipo do guerreiro ardente e fiel.<br />É interessante observar o processo de associação de idéias do poeta. Ao ver a copa desgranhada das arvores,<br />Ele pensa em Tchang Fei (negro-força física). Depois de Tchang Fei, evoca Kouan Yù e recorda a terra dos HAN.<br />O tradutor acrescentou os qualitativos negro, constante. Embora não figure no texto de modo evidente, estão submetidos na idéia que se faz dos personagens. A razão é que a língua chinesa, pobre em certa categoria de termos abstratos, tende a transforma-los através de metáforas.<br />Assim coração de Kouan-Yù-sin (coração de Kouuan-Yù) significa constância, lealdade. Uma tradução que não leva em conta esse aspecto de língua chinesa dará uma idéia ininteligível. (Nota da edição vietnamita).<br /><br /><br /><br /><br />AO LER “ANTOLOGIA DOS MIL POETAS”<br /><br /><br /><br />Flores, neve, lua e vento, montes rios<br />¾ cantar a natureza era o prazer dos antigos.<br />É preciso armar de aço os versos de nosso tempo.<br />Também os poetas devem saber combater.<br /><br /><br /><br />BELEZA PERMANENTE<br /><br /><br /><br />Tudo muda ¾ é a lei. <br />A roda gira e não para.<br />Após a chuva, o sol.<br />O universo , num instante,<br />troca suas roupas molhadas.<br />A paisagem estende tapetes<br />sobre seis quilômetros.<br />Sol doce, leve brisa,<br />uma flor sorri.<br />No topo da arvore,<br />o galho brilha.<br />Canta um coro de pássaros.<br />Homens e animais sentem a ressurreição.<br />Que de mais natural?<br />Após a desgraça o jubilo.<br /><br /><br />LIBERDADE, PREPARO-ME PARA ATRAVESSAR <br /> AS MONTANHAS<br /><br /><br />Nuvens e montes. Montes e nuvens.<br />Cintila o rio em baixo. Nada o mancha.<br />Palpita o peito, sigo Si-Fong Ling, (*)<br />O olhar no sul, pensando nos amigos.<br /><br /><br />(*) Si-Fong Ling ¾ Montes do Oeste, cadeia de montanhas que se vê de Lieoù, onde se encontrava o poeta ao sair da prisão.<br />Esta estrofe não figura no velho CARNET DE PRISON, de Ho Chi Minh. Ela é, na realidade, uma mensagem de além-tumulo.<br />Certo dia de 1944, dois anos após o desaparecimento de Ho Chi Minh, morto ¾ e enterrado, ¾ Vo Ngguyen Giap,<br />Que comandava o grupo de resistentes de Cao Bang, encontrava um exemplar de um jornal de Tch’oung King, com a estrofe acima, na margem, escrita a mão. A caligrafia era a mesma do desaparecido.<br />Impossível qualquer duvida: o morto estava VIVO.<br />(Nota da edição vietnamita).<br /><br />Aqui termino a digitação desse maravilhoso livro.<br /><br />Diladila luna matoshttp://www.blogger.com/profile/15405374156026498470noreply@blogger.com3